25 março 2013

Resenha: A Ilha Sob o Mar


"- Espere, Teté. Vamos ver se nos ajuda a diminuir uma dúvida. O doutor Parmentier acha que os negros são tão humanos quanto os brancos, e eu afirmo o contrário. O que você acha? – perguntou Valmorain, num tom que pareceu ao doutor mais paternal do que sarcástico.
Ela permaneceu muda, com os olhos no chão e as mãos juntas.
– Vamos Teté. Responda sem medo. Estou esperando…
– O senhor sempre tem razão – murmurou ela, por fim.
– Ou seja, na sua opinião, os negros não são completamente humanos…
– Um ser que não é humano não tem opiniões, senhor." (Página 96)

A Ilha Sob o Mar foi o primeiro contato que tive com a literatura latina, e com a autora. É um romance histórico, um dos meus gêneros favoritos. Acompanhe então a resenha.
Em fins do Século XVIII, em Saint-Domingue, onde hoje é o Haiti, as plantações canavieiras eram a principal e mais rentável atividade econômica desta colônia francesa. Ao completar 20 anos Toulouse Valmorais, um francês letrado é convocado por seu pai para ir até a ilha. Como seu pai estava a beira da morte, ele acabou tendo que assumir a administração da habitation Saint-Lazare. Nunca pensou que sua vida tomaria um rumo tão inesperado.
Para ajudá-lo a "domar" os escravos de sua propriedade, Valmorain contrata Prosper Cambray, um capataz cruel e irredutível. Se torna amante de uma mulata cocote Vaiolette Boiser, mas devido as diferenças sociais acaba se casando com a espanhola Eugenia e ganhando um grande amigo como cunhado, Sancho. Neste tempo, com a ajuda de Violette, Valmorain compra Zarité, codinome Teté, uma escravinha de nove anos de idade que estaria para sempre ligada a ele. A partir daí, acompanhamos a vida de Zarité e suas experiências. Neste eixo gira toda a história de Isabel Allende.
Já tinha lido um livro parecido, A Cabana do Pai Thomas, onde um escravo é o personagem principal. No entanto A Ilha Sob o Mar não foi tão bom quanto ele. No início da história, quando Valmorain chega a ilha, ele era como todos os jovens, cheio de sonhos e ideias, mas acaba se tornando um conformado e adepto da escravidão, afinal sua prosperidade provinha dela. Perdeu todo o seu caráter. E se tornou u personagem que me enojou o livro todo.
Zarité, que era apenas uma criança quando foi  comprada, foi uma escrava que não sofreu tanto como os que viviam nas plantações, pois ela era uma escrava doméstica, destinada a cuidar de Eugenia. Aos onze anos se tornou submissa sexual de Valmorain. Detestava se deitar com o patrão mas não fez nada a respeito ao longo dos anos. Resultado: filhos bastardos. Zarité não foi uma escrava revolucionária. Estava indignada com a sua situação e sonhava com a liberdade mas sempre foi leal a seu patrão e sempre estava disposta a ajudar seus irmãos de cor. Se apaixonou, mas não lutou por seu amor. Não foi uma personagem que mexeu comigo. Não fez muita diferença.
O livro é dividido em duas partes. A primeira se passa em Saint-Domingue e a  segunda em Nova Orleans. A segunda parte do livro foi a que mais me prendeu, devido as revoluções escravas, a luta pela liberdade e suas consequências, a história começa a ter algumas reviravoltas.

"Os fugitivos de antes eram os revolucionários de agora. Já não se tratava de bandidos esquálidos, mas de guerreiros decididos, porque não dava para voltar atrás: morria-se lutando ou morria-se na tortura. Só podiam apostar na vitória." (Página 181)

A história toda é narrada em terceira pessoa, mas há páginas em que a história é contada na visão de Zarité. Isso é bom, porque não ficamos limitados a visão da personagem. Vários trechos do livro narram um pouco dos rituais e deuses da religião de Zarité, acho que o candomblé. Mas depois da mudança para Nova Orleans o catolicismo entra. Esse também é um tópico do livro. Enfim, a história relata os reveses da escravidão, o sofrimento e a luta de um povo diante da superioridade de outro.

"Não há nada tão perigoso como a impunidade meu amigo. É quando as pessoas enlouquecem e se cometem as piores atrocidades, não importa a cor da pele. Todos são iguais. Se você visse o que eu vi, questionaria a superioridade da raça branca que tantas vezes discutimos." (Página 178)

 Se a autora tinha o objetivo de passar uma mensagem, conseguiu. Mas é apenas o livro que conta a história da vida de alguém, com seus autos e baixos. Não é uma história espetacular. Mas é uma história boa e bem escrita. Além de tudo é instrutiva porque o cenário histórico e os fatos onde a história é inserida são reais. Acho que a personagem da Zarité poderia ser melhor explorada, mas… Foi uma boa leitura, só.

Avaliação 3/5
 
Título: A Ilha Sob o Mar

Autora: Isabel Allnende

Editora: Bertrand Brasil

Ano: 2010

Número de páginas: 476
 
 
Beijos, Bruna


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