25 abril 2013

Resenha: Ensaio Sobre a Cegueira


"- O medo cega, disse a rapariga dos óculos escuros, São palavras certas, já eramos cegos no momento em que cegamos, o medo nos cegou, o medo nos fará continuar cegos, Quem está a falar, perguntou o médico, Um cego, respondeu a voz, só um cego, é o que temos aqui. Então perguntou o velho da venda preta, Quantos cegos serão precisos para fazer uma cegueira." (Página 131)

SARAMAGO, José. Ensaio sobre a Cegueira. Editora Companhia das Letras, 2008. 310 páginas.
 
Ensaio Sobre a Cegueira, de José Saramago foi publicado em 1995, e hoje já está na sua 59ª reimpressão. O livro nos traz uma história no mínimo singular. Um motorista, está parado no sinal, quando de repente um clarão invade a vista do motorista. O sinal abre, mas ele não se move, não pode. Ele se descobre cego. Era o primeiro caso de uma epidemia de cegueira. Mas não era uma cegueira qualquer. Ao contrário dos cegos "normais", esta cegueira era branca. Esta epidemia começou a se espalhar, a cada minuto apareciam mais e mais cegos. O governo resolveu colocá-los em quarentena. Colocaram todos os cegos juntos em determinados locais, e proviam a eles a comida diária e materiais de higiene e limpeza. Mas como poderiam se virar sozinhos? Todos estavam cegos. E se alguém ali não estivesse realmente cego? Como seria? Nesta viagem a luz das trevas, eles se verão perdendo sua humanidade.
Decidi começar a ler alguns clássicos da literatura e Ensaio sobre a cegueira foi uma boa escolha. Posso dizer que José Saramago foi um gênio. A leitura do livro me fez refletir bastante e dar mais valor a um dos meus cinco sentidos: a visão. Pense bem, se você ficasse surdo ou mudo, ainda poderia se virar sozinho, comer sozinho, desenvolver atividades básicas de seu dia a dia facilmente, mas ficando cego, você precisaria depender de alguém. José Saramago conseguiu desmistificar aquele ditado popular que "em terra de cego, quem tem olho é rei", mostrando "a responsabilidade de ter olhos quando os outros o perderam". Ao perder a visão, todos começam a regredir ao estado mais lastimável que o ser humano pode chegar, sem higiene, passando fome, tudo começa a virar uma completa anarquia… É triste ver que o ser humano pode chegar a um estado tão baixo. Durante suas 310 páginas, o sentimento é de constante aflição.

"Escuta, tu sabes muito mais do que eu, ao pé de ti não passo de uma ignorante, mas o que penso é que já estamos mortos, estamos cegos porque estamos mortos, ou então, se preferes que diga de outra maneira, estamos mortos porque estamos cegos, dá no mesmo." (Página 241)

A estória é narrada em terceira pessoa, mas tive um pouco de dificuldade com a leitura. Primeiro: por desejo do autor, foi mantida a ortografia vigente em Portugal. Algumas palavras eu nem sabia o significado, mas nada que afete a sua leitura. Segundo: a escrita do autor me deixou um pouco confusa. Como no trecho extraído acima, ele não usa travessões ou aspas para diferenciar os diálogos, ele os separa por vírgulas e inicia-os com letra maiúscula. Ele nem usa ponto de interrogação ou exclamação. Por várias vezes tive que reler parágrafos para entendê-los. É apenas um estilo de escrita que não estou acostumada.
O autor conseguiu fazer algo incrível ao meu ver. Ele conseguiu construir personagens complexos, com seus dramas, sem ao menos nos revelar seus nomes. Os reconhecemos apenas por características como o médico, ou o velho da venda preta, como no trecho acima. Intrigante. Enfim, ele nos leva a entender que mesmo cegos, somos capazes de ver.

"Dentro de nós há uma coisa que não tem nome, essa coisa é o que somos." (Página 262)

Leiam, eu super recomendo.

Avaliação 5/5
Beijos, Bruna.


2 comentários:

  1. Oie :)

    Nossa estou doido para ler esse livro, todo mundo fala super bem do José é acho que vou adorar, beijos !!

    http://euvivolendo.blogspot.com.br/2013/04/promocao-dia-do-livro.html ( participa lá :D )

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    Respostas
    1. Pois é, nunca tinha lido um livro dele, e simplesmente me apaixonei. Leia Gabriel, vale muito a pena.

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