22 maio 2013

Resenha: Os meninos da Rua Paulo


"Boka ficou sozinho no meio do grund. Da rua, por cima da cerca, vinha um barulho de carros; ele, porém, tinha a impressão de que não se achava no centro de uma grande cidade, mas sim nalgum lugar distante, no estrangeiro, numa grande planície onde no dia seguinte uma batalha ia decidir da sorte das nações." (Página 143)

MOLNÁR, Ferenc. Os meninos da rua Paulo. Editora Cosac Naify, 2005. 264 páginas. Título original: A Pál utcai fiuk.

Lembram quando nós brincávamos de escolinha, de médico? Então, ler Os meninos da rua Paulo, me trouxe tantas boas lembranças da minha infância e acho que qualquer um que leia, pode compartilhar esse mesmo sentimento.


Em seu livro, Ferenc Molnár conta a história de alguns meninos, frequentadores da mesma escola, sempre brincavam em um terreno baldio na rua Paulo, em Budapeste, Hungria, 1889. Nesse terreno, que é chamado de grund por eles, todos os dias depois da aula eles brincavam de pela, um tipo de jogo parecido com o tênis, de exército, enfim, brincavam. Mas quando quando os camisas vermelhas, um grupo de meninos que tem seu quartel general no Jardim Botânico, ameaçam tomar o controle do grund por não ter onde jogar pela, é declarada a guerra entre esses dois grupos. E é a partir desta premissa que o enredo se desenrola.

É a primeira obra húngara e do autor que tenho a oportunidade de ler. A história é narrada em terceira pessoa, mas as vezes em primeira, o que nos dá a entender que o autor foi um dos meninos da rua Paulo. Com uma escrita simples e linear, a obra é de fácil compreensão e extremamente cativante. Em algumas páginas, trechos da história são ilustrados, remetendo as histórias ilustradas infantis, mas funcionam como um incremento, tornando o livro mais expressivo.

Apesar de ser um romance juvenil, ela se tornou um clássico por trazer uma história com um tema tão universal. Os meninos da rua Paulo, são uns adolescentes, de mais ou menos 14 anos. Cada um com sua personalidade marcante e complexa, mas sem perder suas características juvenis. Após a ameaça iminente da perda do grund, os meninos da rua Paulo se reúnem e se organizam como um exército, dispostos a dar a própria vida por aquele pedacinho de terra, onde eles podem ser quem eles querem, sua pátria. A medida que vamos lendo, vemos quão a sério eles levam essa guerra. Fazem planos, discutem estratégias, realizam missões e simulações. Possuem a disciplina, a hierarquia e a honra de um exército de verdade.

Ao lermos tal história encontramos nas ações desses meninos, lições de amizade, companheirismo, honra, caráter, devoção. São crianças com quem podemos nos identificar facilmente, não agora pois creio que todos nós já perdemos muito ou se não todo o espírito inocente de criança, mas quando crianças. Até mesmo no ato de guerrear umas contra as outras elas possuem regras, agem de maneira ética para com os outros. Nessa guerra não vale tudo. O que pensariam eles, das guerras mundiais onde nada tinha um real sentido, onde cada um era por si e não haviam regras?

Existem milhares de meninos e meninas como os da rua Paulo ao redor do mundo. Crianças que lutam por um espaço onde elas possam ser livres, possa ser quem elas quiserem sem medo de nada, um mundo alternativo, só delas. Nós já fomos como esses meninos. Já lutamos para ser nós mesmos. Hoje, muitos lutam para ser quem não são.

Cativante, instigante. Uma obra que tem o poder de nos fazer refletir. Uma leitura tão boa quanto uma brincadeira de criança!

Avaliação 5/5


Outras obras do autor:


MOLNÁR, Ferenc. O poste de vapor. Editora Cosac Naify, 2005. 88 páginas. Título original: A Gozoszlop


Beijos, Bruna.


4 comentários:

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